AO VIVO

Nara Borges, que há 50 anos convive com as sequelas da paralisia infantil, reforça o pedido para que pais e responsáveis levem as crianças para se imunizar. Apenas 46% das crianças em idade de vacinação receberam a proteção neste ano em Pelotas

O último caso de poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, foi registrado em 1989 no Brasil. Em 1994, a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) emitiu um certificado ao país de erradicação da doença. No entanto, de acordo com dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), desde 2015, a meta de 95% do público-alvo vacinado não é atingida em terras brasileiras, o qual é o patamar necessário para que a população seja considerada protegida. Em Pelotas, até a última terça-feira (18), apenas 46% das crianças na faixa etária da campanha haviam sido imunizadas contra a pólio

Há 50 anos, Nara Cristina Nunes Borges convive, em Pelotas, com as sequelas da doença, adquirida por não ter recebido a imunização quando era criança. Ela conta que a mãe, que a teve muito jovem, não a levou para receber a vacina contra a paralisia infantil e, aos cinco meses de idade, recebeu o diagnóstico da enfermidade e foi trazida para Pelotas, onde foi criada pelos avós. Até os dez anos, quando começou a caminhar e iniciou os estudos na escola, ela caminhava se arrastando, com os joelhos e mãos no chão. Nesse período, realizou cinco cirurgias de alongamento de tendões, o que permitiu que pudesse se locomover ao longo da vida. No entanto, com a idade aumentando, as sequelas e, consequentemente, as limitações, se agravaram.

“Por que não confiar na vacina contra a pólio? Quantas vidas ela já não salvou? Quantas pessoas não tiveram essa doença e suas sequelas por causa da vacina? Quero dizer aos pais, mães e responsáveis por uma criança: leve para fazer a vacina. É de graça, e a criança vai ser feliz e livre de mais um problema de saúde. Existem tantas doenças que não temos como vencer, e a pólio já temos há tantos anos com a vacina”, afirmou Nara.

As sequelas da doença fizeram com que Nara precisasse parar de trabalhar há cinco anos. As dores, como lombalgia, fibromialgia e escoliose, além do uso de bengala e necessidade de se firmar constantemente em superfícies como paredes, a obrigam a tomar várias medicações, o que, de acordo com o ortopedista que a acompanha, precisará ser feito para garantir qualidade de vida. Além das dores e das dificuldades físicas, a pólio também trouxe problemas psicológicos, como depressão e ansiedade.

Nos grupos da família e amigos nas redes sociais, Nara é responsável por lembrá-los de levar as crianças para receber a vacina contra a poliomielite. Isso porque, segundo ela, a imunização é essencial e é muito importante lembrar que existem muitas pessoas que nunca tiveram a chance de tratar as sequelas da doença, tal qual Nara teve. “Se minha mãe tivesse me vacinado, eu ainda estaria trabalhando, que é o que mais gosto de fazer. Gostaria de andar de bicicleta, de correr, de não ser tão dependente. Eu mato dois leões por dias para não depender de ninguém”, finalizou.

Campanha de imunização prossegue até este sábado

Continua até este sábado (22), a Campanha de Vacinação Contra a Paralisia Infantil, para crianças de um a quatro anos, e a aplicação de outros imunizantes para atualização da Caderneta de Vacinação de jovens até 15 anos. Em Pelotas, 8.486 crianças ainda precisam receber as doses contra a doença.

A Prefeitura reforça que pais e responsáveis devem procurar os mais de 50 pontos espalhados pela cidade para que os menores recebam os imunizantes. Também é possível agendar a vacinação, através desta página

Iniciativa do Município, a Campanha de Recuperação das Coberturas Vacinais, busca oportunizar que crianças e jovens que ainda não receberam as doses complementares contra a pólio sejam imunizadas, bem como com as demais vacinas para atualização da Caderneta.

Onde as vacinas contra poliomielite estão sendo aplicadas

* De segunda a quinta-feira

– Todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs): das 8h30min às 11h e das 13h30min às 16h – exceto as Unidades da Balsa e do Jardim de Allah, que funcionam somente até às 13h30min

* De segunda a sexta-feira

– Bancas 16 e 17, Mercado Central: das 8 às 17h. Para as crianças somente a Vacina Oral Poliomielite (VOP) estará disponível

– Unidade de Vacinação Infantil na Ubai Navegantes: das 8h30min às 19h30min

– Centro de Especialidades: das 7h30min às 17h30min

* Aos sábados

– Bancas 16 e 17, Mercado Central: das 10 às 15h. Para as crianças somente a VOP estará disponível

Quais documentos pais e responsáveis devem apresentar

* Documento de identidade do responsável legal com foto

* Carteira de Vacinação da criança

* Cartão SUS ou CPF