AO VIVO

Por Renan Santos

No jornalismo, é muito comum o uso do termo deadline. Ele se refere ao prazo que o profissional tem para entregar reportagens, conteúdos, sugestões de pautas, entre outros produtos dentro do mercado jornalístico. Independente do veículo e do meio – internet, rádio, impresso ou televisão -, todos que lidam com comunicação o conhecem. No futebol, também é uma expressão que cabe perfeitamente para análise e compreensão de um contexto como todo. E dentro da situação do Brasil, é possível estipular um prazo para o técnico Hemerson Maria.

Crescem as críticas ao trabalho do treinador. Desde a opção por um sistema defensivo em uma linha de 5 no jogo contra o Cuiabá, muitos já observam com desconfiança a continuidade de Hemerson Maria. A sequência inicial da Série B, com três empates e uma derrota, em uma apresentação sofrível contra o CRB, e a eliminação para o Brusque pela Copa do Brasil preocupam muito os torcedores. Nas redes sociais, é possível ver muitos pedirem os retornos de Rogério Zimmermann ou Gustavo Papa ou ainda a aposta em treinadores identificados com o clube, como Hélio Vieira ou Luizinho Vieira. Muitos contestam as apresentações do time na temporada e as poucas vitórias neste começo de Série B.

No jornalismo, o prazo de qualquer conteúdo é determinado de acordo com variáveis circunstanciais e com as necessidades do veículo. Condições de trabalho, horários de programas, disponibilidade de profissionais, entre uma série de fatores. O trabalho de Hemerson Maria também precisa ser medido desta forma. É impossível avaliar o rendimento físico, tático e técnico do Brasil sem levar em consideração os fatores externos desta temporada. Foram mais de 130 dias entre o empate em 2 a 2 com o Ypiranga, última partida de Gustavo Papa, e a derrota por 1 a 0 para o Juventude, estreia de Hemerson Maria. Retomada esta no Gauchão que aconteceu cerca de 10 dias depois do rubro-negro reiniciar os treinamentos, que foram os primeiros do novo comandante com o elenco.

Além do pouco tempo em atividade com o grupo, outro elemento que precisa ser considerado quando se faz uma análise do desempenho xavante é a chegada de reforços. Com o alívio econômico de não precisar alugar as arquibancadas móveis para as partidas – que custavam R$25 mil ao clube por jogo -, e com os avanços na Copa do Brasil, o Brasil nunca contratou tanto para uma Série B. Foram nove reforços para praticamente todas as posições, exceto goleiro. Foram trazidos zagueiro, lateral esquerdo e direito, volante para atuar mais recuado, volante com melhor saída de jogo, meia de armação, atacante pelos lados e centroavante. Destes, os que estrearam, casos de Rodrigo Ferreira, Gustavo Cazonatti, Bruno Mathias, Danilo Gomes e Delatorre, deram boa resposta.

O calendário apertado deu dez dias para Hemerson Maria conhecer o grupo e encerrar o estadual. A maratona de jogos na Série B diminuiu ainda mais o tempo para que o técnico implantasse suas ideias. Estão chegando jogadores durante a competição, já inseridos em um contexto de pressão por resultados e sem treinos para entrosar. Em poucos jogos, os principais méritos do técnico são defensivos. A zaga é sólida. Sofreu 7 gols em 8 jogos. O desequilíbrio é no ataque. Nestas mesmas 8 partidas, a equipe marcou 4 gols. Um reflexo de um time que tem muitas dificuldades no momento de atacar e que, neste começo de Série B, tem recorrido a um futebol mais reativo, voltado para o contra-ataque. São fatores que precisam ser analisados quando avalia-se o trabalho do treinador.

Os mais imediatistas e preocupados irão apontar que o prazo do trabalho do treinador é a partida contra o Náutico, no Bento Freitas. Mas, durante o mês de setembro, Hemerson Maria terá mais tempo para trabalhar, mesmo com viagens e encontrar este equilíbrio ofensivo, mostrando suas ideias. A tabela da Série B mostra uma folga maior em relação a esta maratona inicial. O Brasil recebe o Cruzeiro no dia 2, um jogo que o clube deverá ter muitas dificuldades, depois encara o Náutico, novamente em Pelotas, no dia 5. Após a partida contra os pernambucanos, o time de Hemerson Maria só jogará aos finais de semana. Enfrentará Guarani-SP e Botafogo-SP (fora) e Paraná (casa) nos dias 12, 19 e 26. Terá as semanas inteiras para preparar a equipe entre as partidas e com viagens mais curtas. A partida contra o Paraná está marcada para ser a 11ª rodada, mas será o 10º jogo do Brasil na B. Neste contexto, ainda estará treinando com os reforços e poderá entrosá-los com o restante da equipe. As primeiras impressões mostram que a maioria dos recém-chegados deve ser titular no Brasil.

Com tempo para treinar, o time precisa mostrar mais e ter resultados melhores. A paciência com o técnico precisa existir neste momento inicial, principalmente quando considerarmos que faz pouco mais de um mês que teve o primeiro contato com o elenco. Ao longo de setembro, se terá uma amostragem melhor do trabalho de Hemerson Maria e como acontecerá o encaixe das peças. O ataque terá que ser mais eficiente, assim como a defesa tem se mostrado. Principalmente na partida contra o Paraná, no Bento Freitas, mas também contra os paulistas, o técnico terá tido treinamentos, reforços e partidas com bom espaço de tempo para fazer os ajustes necessários. O deadline do técnico Hemerson Maria, passada esta maratona inicial de jogos com pouco tempo de recuperação e longas viagens, é o mês de setembro.