OLHAR CRISTÃO (29 de maio 2017)
Amigos e amigas da Rádio Universidade, a semana começa ainda sob o impacto do quebra-quebra ocorrido em Brasília na ultima quarta feira. Com o pretexto de manifestar o seu descontentamento com relação ao governo Temer e pedir eleições diretas para presidente, as centrais sindicais levaram centenas de pessoas de todo o país para a Esplanada dos Ministérios. Até aí, tudo bem. O direito à livre manifestação é um dos pilares de qualquer democracia digna desse nome. Todo cidadão e toda cidadã é livre para ocupar as praças e avenidas, de forma individual ou em grupos, para protestar contra qualquer governo. Organizar manifestações, passeatas, comícios é direito próprio da cidadania. Como dizia o poeta Castro Alves, “A praça é do povo como o céu é do condor”. No entanto, o que se viu na quarta feira não foi uma manifestação popular e democrática no sentido legítimo da palavra. Invadir prédios públicos, depredar, tocar fogo não é protesto, é vandalismo, é baderna. As imagens estão aí para provar que os dirigentes das centrais sindicais que convocaram aquela baderna fantasiada de manifestação democrática prepararam agentes, armaram pessoas para fazer o que fizeram. Protesto pacífico e democrático não se faz com paus, pedras, facões e bombas caseiras. Na democracia o cidadão ou a cidadã exerce a sua cidadania através do voto, não através da violência seja ela de que tipo for. Os sindicatos não têm a minha procuração, não tem a procuração do trabalhador para fazer esse tipo de coisa. O trabalhador, a pessoa simples que ganha o pão de cada dia com o suor do seu rosto e que afinal sustenta essa máquina sindical, não apóia a violência, ele quer apenas que o seu sindicato defenda os seus interesses na mesa de negociação e em ultimo caso através da greve. Incendiar prédios públicos, construídos com o meu, com o seu, com o nosso dinheiro, não vai resolver os graves problemas que o país atravessa.
Amigos e amigas da Rádio Universidade, uma coisa é certa: bem ou mal, as instituições estão aí funcionando. Podemos questioná-las, temos o direito de manifestar a nossa insatisfação, podemos repudiar as suas condutas, isso faz parte do regime democrático, mas não podemos sair por ai quebrando tudo e impondo nossa vontade à revelia da lei. Ora, vejamos, os três Poderes da Republica não foram impedidos ainda de cumprir os seus papeis. É certo que a corrupção, a roubalheira corroeram as estruturas principalmente do Legislativo e do Executivo, mas o sistema ainda funciona em obediência a Constituição Federal. Se quisermos mudar tudo, Executivo, Legislativo e até o Judiciário, (por que não?) temos que mudar democraticamente, na forma que a lei maior que é a Constituição permite. Fora disso, só existe o caminho da revolta popular ou do golpe de estado. Será que é este o caminho que de fato pretendemos trilhar daqui pra frente? Se é verdade que a presidenta Dilma foi tirada do governo através de um golpe, vamos agora dar outro golpe para instalar outro regime, outro governo? Se Temer não é um presidente legítimo, vamos agora dizer que a CUT e suas tropas raivosas têm legitimidade para fazerem o que quiserem?
Amigos e amigas da Rádio Universidade, como sempre defendemos aqui na RU, é preciso acalmar os ânimos e buscar soluções para que o Brasil retome o bom caminho. Vamos então continuar repetindo e batendo nessa mesma tecla: a saída para o Brasil não está no radicalismo político-partidário que gera violência. Essa onda de radicalismo só vai produzir mais violência a cada dia. Se os sindicatos continuarem a usar essa estratégia eles se afastarão cada vez do povo brasileiro. Precisamos recuperar o bom senso para podermos conduzir o processo respeitando as leis, sobretudo a Constituição. Fora desse caminho qualquer projeto, seja qual for a sua cor partidária, não terá êxito, pelo contrário, aprofundaremos ainda mais a crise e o Brasil será uma “terra de ninguém”. É isso que realmente o povo brasileiro está querendo? Com certeza não!
Pe. Plutarco Almeida, SJ
Diretor Geral RU