OLHAR CRISTÃO (13 de março 2017)
Amigos e amigas da Rádio Universidade: o ano letivo na rede publica de ensino mal começou e os professores já ameaçam decretar uma nova greve. Todo mundo se lembra que ano passado o sindicato paralisou as escolas por cerca de 60 dias. A greve acabou, os alunos voltaram as salas de aula com a promessa de que haveria “reposição de aulas”, mas na verdade todo mundo sabe também que muitas vezes isso é “conversa pra boi dormir”, ou seja, na pratica os alunos saem prejudicados porque boa parte dos conteúdos que deveriam ser colocados ao longo do período nunca mais serão vistos. Assembléias, greve, discursos inflamados, palavras de ordem, mobilizações e no final das contas, “no frigir dos ovos” quem são os mais prejudicados? O salário dos professores, parcelados ou não, são pagos. Os empregos estão garantidos porque todos, ou quase todos, estão protegidos pela estabilidade que o serviço público lhes garante. Então a corda sempre quebra do lado mais fraco, e o lado mais fraco nessa historia são os alunos. Amigos e amigas da Rádio Universidade: é bom deixar claro que não somos contra as organizações sindicais e contra as greves que eventualmente acontecem. Tudo isso faz parte da luta dos trabalhadores e trabalhadoras. Formar sindicatos e associações é um direito mais do que legitimo de quem trabalha em qualquer setor. Fazer greve também é outro direito fundamental da classe trabalhadora. O que sempre questionamos é o fato de que em boa parte dos casos, as greves são decretadas sem critérios. O sindicato convoca assembléia que às vezes não tem representatividade suficiente e mesmo assim a greve é decretada. Já não há discussões prolongadas e o dialogo com os gestores públicos quase não existe. O sindicato decide pela greve e pronto, não tem mais conversa, alias, nunca houve conversa. O radicalismo tomou conta de muitos sindicatos no Brasil. Do mesmo modo, o uso político-partidário dos sindicatos tornou-se lugar comum. Não se pensa na classe trabalhadora, pensa-se nas próximas eleições, se o partido do sindicato vai tomar o poder ou não. Não raras vezes, trabalhadores e trabalhadoras se transformam em massa de manobra a serviço do partido. As greves no serviço publico, especialmente na educação, praticamente já fazem parte do calendário anual. Todo ano se pode esperar pela greve nas escolas publicas. O tempo passa, entra ano e sai ano, e a impressão que se tem é de que nada ou quase nada se avançou em termos de dialogo entre gestores e servidores públicos. Pelo contrario, o radicalismo sindical só faz aumentar. É claro que as reivindicações da categoria dos professores em sua maioria são justas, justíssimas. Não se trata disso. Não queremos nem podemos de maneira nenhuma questionar os direitos que diariamente são desrespeitados pelos governantes. Temos a questão salarial do professor que ainda não foi resolvida. O salário dos nossos professores é indigno, é vergonhoso mesmo. Temos também a questão da falta de estrutura das escolas, a falta de apoio pedagógico e outras tantas questões mais. Não estamos dizendo aqui que a educação publica no Brasil é uma beleza, claro que não. O professor precisa ser reconhecido na sua dignidade e a escola como espaço privilegiado na formação da cidadania. Sem uma educação publica de qualidade, o que implica professores bem pagos e bem motivados, não haverá solução nenhuma para os problemas que afligem o Brasil há tanto tempo. No entanto, a falta de dialogo, o radicalismo dos sindicatos, as greves sucessivas também não irão resolver essas questões como um passe de mágica. Se continuarmos agindo assim, é melhor começar a pensar em fechar definitivamente as escolas, o que de fato não interessa a ninguém. Se todo ano tem greve, como é que fica o calendário escolar? E se o nível da educação publica já é baixo, a que nível de baixeza chegaremos daqui a há pouco?
Amigos e amigas da Rádio Universidade: vamos repetir, não somos contra a greve, mas não podemos concordar que o radicalismo continue a prejudicar nossos estudantes. Em momentos de crise como este que estamos vivendo é preciso ter calma, sentar-se a mesa e conversar. É preciso por u momento esquecer as eleições, deixar um pouco de lado os interesses partidários do sindicato e buscar soluções que não prejudiquem a categoria dos professores, é claro, mas que também não continuem a penalizar seguidamente os estudantes. A classe estudantil também tem direitos a serem respeitados.