OLHAR CRISTÃO (09 de janeiro 2017)
Amigos e amigas da Rádio Universidade, logo no começo desse ano de 2017 o Brasil foi surpreendido com mais um massacre de presos. Dessa vez o massacre foi no presídio de Manaus, no Estado do Amazonas. Na verdade, surpresa não seria a palavra mais adequada, uma vez que todo povo brasileiro, do mais humilde até o mais endinheirado, sabe perfeitamente que os presídios, em sua maioria, são verdadeiras filiais do inferno na terra. E não é preciso nem visitá-los pessoalmente pra saber disso. Quando a televisão ou o jornal mostra algumas poucas cenas já dá pra perceber a crueldade da situação. Mas acontece que a TV e a imprensa em geral só mostram quando acontece um massacre como este ultimo ocorrido em Manaus. O dia a dia, as barbaridades que acontecem ninguém sabe. A realidade nua e crua é que os nossos presídios foram dominados pelo crime organizado. Aliás, por incrível que pareça, o crime muitas vezes é mais organizado do que o estado brasileiro. Na maioria dos presídios o estado não exerce qualquer controle porque há muita corrupção de certos agentes públicos também, diga-se de passagem. Tudo indica que foi isso que aconteceu em Manaus onde mais de 60 presos foram mortos não pela polícia, como ocorreu há mais de 20 anos atrás em SP naquele famoso massacre do Carandiru, mas sim pelos presos ligados a facções inimigas. Foi uma guerra entre facções dentro do presídio onde teoricamente o estado é responsável pela guarda e segurança de quem lá se encontra.
Amigos e amigas da Rádio Universidade, a violência é um dos temas que mais preocupam os cidadãos e cidadãs. Aqui mesmo em Pelotas a nova prefeita, Sra. Paula Mascarenhas, resolveu criar uma secretaria de segurança. A violência é uma das prioridades assumidas pelo novo governo municipal. Tudo bem! A questão da violência de fato é bastante complexa e problemas complexos não se resolvem com soluções simples. É um grande equivoco achar que no momento em que tivermos grandes presídios, prisões de segurança máxima e coisas desse tipo, a violência vai diminuir. Outro equivoco cometido pelas nossas autoridades é pensar que aumentando o numero de policiais nas ruas estaremos todos mais seguros. Aqui em Pelotas, por exemplo, diante da situação precária em que se encontra a Brigada Militar, a nova prefeita resolveu criar uma secretaria de segurança. Tudo bem, mas será que a violência será realmente combatida desse jeito, somente com mais polícia e com mais prisões? É evidente que precisamos de um policiamento mais efetivo, mais capacitado, mais aparelhado, mais inteligente, mais eficiente, sobretudo. Por outro lado, o Brasil precisa urgentemente de uma nova política prisional, um sistema moderno que ofereça uma chance de recuperação aos criminosos, bem diferente do sistema atual que serve apenas para piorar ainda mais quem cometeu qualquer tipo de crime. Além de arcaicos, os presídios brasileiros custam muito caro. É escandaloso ter que admitir que um preso custa mais aos cofres públicos do que um estudante. Precisamos de sistema prisional onde os criminosos paguem efetivamente por seus crimes, mas que também possam enxergar um futuro diferente, um futuro menos sombrio. Desse modo o detento e a sociedade saem ganhando. Mas, voltamos a perguntar: será que a violência será realmente combatida desse jeito, somente com mais polícia e com mais prisões?
Amigos e amigas da Rádio Universidade, o Brasil é um país doente. Não adianta mascarar nem botar panos quentes! O combate a violência, que é complexo, exige respostas também complexas. Entendemos por complexidade a elaboração de políticas publicas que contemplem não apenas mais prisões e mais policia. Mais e prisões e mais policia, sim. Porém, na mesma proporção, ou talvez até em maior proporção, mais escolas e mais, muito mais projetos sociais especificamente dirigidos às populações e comunidades de risco. Em resumo: mais investimentos na prevenção do que no combate à violência. Precisamos atacar as raízes da violência e estas nós sabemos quais são: o desemprego, a fome, a miséria, escolas de péssima qualidade, o trafico de drogas a céu aberto, uma juventude entregue à própria sorte nas ruas e favelas. Se prefeitos, governadores e presidente continuarem achando que apenas com secretarias de segurança, mais e prisões e mais policia a violência vai diminuir, o futuro que nos espera será muito triste. Enquanto este país não fizer opções claras pela diminuição das desigualdades sociais, a violência vai continuar batendo a nossa porta todos os dias, matando nossas vidas, destruindo qualquer sonho de um Brasil melhor.
Pe. Plutarco Almeida, SJ
Diretor Geral da RU