AO VIVO

OLHAR CRISTÃO (26 de dezembro 2016)

Amigos e amigas da Rádio Universidade. Estamos há poucos dias do final do ano. É tempo de balanço, de avaliação, de crítica também. Sim, cada cidadão, cada cidadã, cada instituição civil ou governamental, cada organização social precisa fazer a sua autocrítica. Claro, é muito fácil criticar os outros. Aliás, isto fazemos sempre com muita naturalidade. Apontar os defeitos dos outros é uma coisa muito boa. Existem pessoas que sentem um verdadeiro prazer em fazer isto. Acontece que algumas vezes os defeitos que apontamos ou que criticamos nos outros na verdade, de alguma maneira, existem também em nós. Diz o velho ditado que quem tem telhado de vidro não deve jogar pedra no telhado do vizinho. Entretanto, de vez em quando caímos neste erro de criticar e mesmo de agredir, de jogar as pedras da intolerância, do preconceito ou da maldade mesmo sobre os telhados das pessoas que não nos são simpáticas, ou que de algum modo nos desagradam. Isso funciona não apenas com relação às pessoas individuais, mas também com relação às instituições. Em 2016 não faltaram pedras jogadas sobre os telhados dos políticos. Muito se falou, muito se criticou, muito se agrediu, muito se dividiu. O Brasil foi transformado num campo de batalha onde faltavam bons argumentos e sobravam sentimentos menores como a raiva, a intolerância, o ódio até. As trincheiras foram bem delimitadas: quem estava do lado A não podia passar pro lado B, ou melhor, não podia sequer falar com o lado B. Do lado A estavam os capitalistas, os inimigos do povo, os fascistas. Do lado B os socialistas, os verdadeiros amigos e salvadores do povo pobre deste país. Do lado A os maus, do lado B os bons. Essa divisão não admite rachaduras. Parece até uma reconstrução do famoso muro de Berlim. E sobre as nossas cabeças, pedras e mais pedras voando. Diálogo? Pra que diálogo? Perguntar sobre as razoes dessa guerra pra que? Imaginar um tempo de paz, uma trégua? Nunca! O melhor, o mais gostoso e o mais fácil é jogar pedras em todo mundo que pensa diferente de nós.

Amigos e amigas da Rádio Universidade, em todo esse ano de 2016 poucas pessoas, especialmente aquelas pessoas eleitas para dirigir os destinos do país tiveram a capacidade de fazer uma autocrítica. Poucas instituições, publicas ou privadas, também tiveram a humildade de fazer isto. Temos a impressão de estarmos vivendo num pais onde todo mundo tem razão, onde todo mundo quer ter sempre razão. Ninguém erra, e por isso ninguém tem que reconhecer que erra. Cada instituição, cada setor, cada corporação se arma até os dentes para combater, e se necessário destruir os seus opositores. Só para citarmos um exemplo, semana passada a assembléia legislativa do RGS discutia o pacote de medidas do governo do Estado que tem como objetivo diminuir as despesas e tentar assim equilibar as finanças do Rio Grande que andam muito mal. Alguns deputados, segundo relata o jornal Zero Hora em sua edição de 22 de dezembro, foram pressionados pelo Poder Judiciário para que não aprovassem a redução do repasse relativo ao justiça estadual. Este é apenas um exemplo de como 2016 foi um ano de pouco diálogo e de muita luta para manter os privilégios de alguns setores. Falou-se muito em cortes de verbas, redução de despesas, sacrifício para que o país volte a crescer e todo mundo seja beneficiado. Entretanto, algumas estruturas de governo, instituições sociais, publicas e privadas, são incapazes de fazer uma autocrítica e se apegam aos velhos hábitos, às tradicionais mordomias e privilégios . Em resumo, ninguém quer abrir mão de nada! Sacrifício em nome do bem comum? Ora bolas, que a classe trabalhadora o faça! Mexer nesses esquemas de poder? Jamais! Reformas para quê? Vamos deixar tudo como está, e quem for fraco que se quebre!

Amigos e amigas da Rádio Universidade, nos últimos dias de 2016 é triste constatar que vivemos tempos difíceis, muito difíceis. Fala-se em democracia, mas desde que seja do meu jeito. Os pacotes do governo são jogados de cima pra baixo e o povo que se dane. As “verdades” corporativistas são impostas e ninguém é capaz de reconhecer os seus erros para que juntos possamos tentar encontrar novos caminhos. E quando todo mundo acha que tem razão, ninguém tem razão de nada e todos perdem. Estamos encerrando um ano em que ninguém ganhou absolutamente nada. Todos nós, brasileiros e brasileiras, perdemos. Que Deus então nos ajude a enfrentar o ano de 2017 com menos autoritarismo, com menos intolerância, com mais humildade e, sobretudo, com mais amor pelo Brasil.

Pe. Plutarco Almeida, SJ

Diretor Geral da RU 

padre almeida