OLHAR CRISTÃO (19 de dezembro 2016)
Amigos e amigas da Rádio Universidade. O final do ano aproxima-se rapidamente. Nesta época geralmente as pessoas procuram fazer uma revisão de suas vidas, o que deu certo e o que não deu, as falhas que aconteceram e o que seria preciso mudar no próximo ano talvez. Muita gente inclusive faz promessas que provavelmente não serão cumpridas, planos que jamais serão postos em prática. Tudo bem, isso já faz parte do cotidiano desses dias. O importante é parar pra pensar, refletir sobre a vida, sobre que tipo de vida estamos vivendo e que vida desejaríamos de fato viver daqui pra frente. O ano de 2016 foi de grandes turbulências para todo o povo brasileiro. Há muitos anos o país não vivia tão intensamente como viveu este ano de 2016. Foi um ano em que experimentamos uma crise atrás da outra, crise econômica, crise social, crise política, crise acima de tudo moral. Parece que os bueiros foram abertos e de repente surgiram ratos de todos os lados.
A verdadeira face da corrupção na máquina publica foi escancarada e todos os brasileiros e brasileiras puderam ver com os seus próprios olhos o quanto foram surrupiados os cofres da nação. Os escândalos pipocaram a cada semana e quase nenhum político escapou. As delações premiadas ameaçam colocar no mesmo cesto de lixo dezenas de empresários, senadores, deputados, governadores e até mesmo o atual presidente da Republica. Como diria uma velha raposa da política brasileira, “nunca antes neste país” se viu tanta gente graúda sendo colocada atrás das grades ou no mínimo tendo que prestar depoimentos à polícia federal e a justiça também. Todo mundo sabe que a corrupção no Brasil não é coisa de agora, assim como também nunca foi privilégio desse ou daquele partido ou governo. O que acontece é que em 2016 de modo especial, por motivos diversos que não cabe aqui analisar, a lama podre que existia no fundo do oceano da corrupção veio à tona assustando o povo brasileiro e desencadeando uma das maiores crises que este país já conheceu.
Amigos e amigas da Rádio Universidade: o que nos preocupa nestes momentos finais de 2016 é que ainda não conseguimos abrir um dialogo autentico sobre a crise que atravessamos. As medidas tomadas pelo governo Temer não conseguem apoio popular exatamente porque não existe dialogo com os setores envolvidos. Apenas os senhores deputados e senadores discutem, mas discutem pouco. Na maioria dos casos apenas obedecem às determinações do Palácio do Planalto. Foi assim com a chamada PEC dos gastos públicos e pelo andar da carruagem parece que o mesmo vai acontecer com relação às outras reformas, a começar pela reforma da previdência. Então, de um lado temos um governo que não sabe dialogar, mas apenas impor sua vontade. Do outro lado, temos as diversas corporações, as centrais sindicais e o movimento social que também não se dispõem a conversar. É mais ou menos como se estivéssemos vivendo hoje um país de gente surda e insensível, líderes enclausurados em suas próprias convicções que não aceitam de maneira nenhuma opiniões diferentes.
É exatamente assim que o Brasil vai encerrar o ano de 2016: um país dividido, onde cada qual defende com unhas e dentes as suas verdades absolutas, verdades que na maioria das vezes não se sustentam na pratica. E quem não aceita essas “verdades” é considerado desde agora e para sempre como inimigo mortal. No Brasil 2016 não houve lugar para o dialogo político e social, mas os espaços de intolerância foram alargados todos os dias. Um país dividido é a herança que vamos receber de 2016. Amigos e amigas da Rádio Universidade: a história da humanidade nos ensina que as verdades impostas nunca prosperaram. Talvez prevaleçam por um certo tempo, mas o preço a pagar é altíssimo. Não se constrói uma nação sem que se busque o dialogo, o dialogo que se fundamenta no respeito às diferenças e a obediência às regras estabelecidas a partir de um amplo e legitimo consenso social. Que Deus nos ajude a baixar a guarda, a desarmar os espíritos, a pensar mais no Brasil e menos em nossos interesses corporativistas ou pessoais.
O Brasil precisa sair desta crise e isso depende não apenas do governo ou dos políticos, mas acima de tudo depende de nós, cidadãos e cidadãs que afinal de contas elegemos os nossos representantes e pagamos as contas. Exigir um governo sério, que respeite a cidadania e uma política honesta que respeite o nosso voto, é o mínimo que cada um de nos pode fazer neste momento. Um natal de bênçãos divinas e de muito diálogo entre todos os brasileiros e brasileiras é o que desejamos!
PADRE PLUTARCO ALMEIDA, SJ —— Diretor Geral da Rádio Universidade