OLHAR CRISTÃO (15 de maio 2017)
Amigos e amigas da Rádio Universidade: o nosso Brasil está passando por uma fase de muitas agitações sociais e políticas. Sem duvida a palavra de ordem, o assunto de todos os dias são as reformas. Diante da situação econômica dramática em que se encontra o país, assim que novo presidente assumiu o governo resolveu colocar nas mãos dos deputados e senadores um pacote de leis que resultaria em profundas reformas no sistema previdenciário, nas leis trabalhistas e na educação, especialmente no ensino médio. De fato, e sobre isso a RU já se pronunciou, não há como negar que as reformas são necessárias, algumas até urgentes. O que sempre nós questionamos aqui é o fato de que não houve realmente um diálogo verdadeiro entre governo e sociedade. Aproveitando o apoio da sua base aliada, tanto na Câmara como no Senado, a mesma base que destituiu Dilma Roussef, o Presidente Temer tenta empurrar goela abaixo do povo brasileiro mudanças que dizem respeito ao que existe de mais importante na sua vida, ou seja, o trabalho e aposentadoria. Falta transparência, falta esclarecimento, falta verdade, falta escutar o povo! Trabalho, previdência, educação, não se muda assim de uma hora para outra sem mais nem menos. Algumas mudanças embutidas nesses projetos inclusive ferem de morte alguns direitos fundamentais, tudo em nome do capital de outros interesses nem sempre confessáveis. Em função disso, os pronunciamentos da CNBB, sobretudo o ultimo deles ocorrido no encerramento da 55º. Assembléia geral em São Paulo há duas semanas atrás, chamaram a atenção dos políticos para o imenso fosso que se abriu entre o povo e o governo atual.
Amigos e amigas da Rádio Universidade: o que mais nos preocupa neste momento é que a massa, o povão mesmo parece que ainda não acordou para a gravidade da situação. O que a gente vê nas manifestações de rua, o que a gente viu naquela greve geral do ultimo dia 28 de abril foram centrais sindicais ligadas ao antigo governo do PT e categorias de funcionários públicos, sobretudo. Além disso, um ou outro setor da juventude, mas pouca gente das empresas privadas, comércio e industria. Tem gente que vai às ruas por causa de suas convicções políticas e tem também quem protesta apenas porque se sente ameaçado em seus privilégios. É esta população sem quase nenhuma representação nas passeatas, manifestações e greves que não está fazendo valer a sua opinião a sua voz neste momento. O “Zé ninguém” que tenta sobreviver com meio salário mínimo está por fora, mas é este “Zé ninguém” que constrói a nação, pois é ele quem vota nos políticos que temos agora no Brasil. E “Zé ninguém” ainda não aprendeu a votar porque está desmobilizado socialmente, está sozinho em meio a gritaria promovida pelos sindicatos e estudantes que em sua maioria tem pouca representatividade. Muitos desses sindicatos, aliás, não representam ninguém além deles mesmos.
Amigos e amigas da Rádio Universidade: enquanto não conseguirmos fazer valer o voto do “Zé ninguém” o Brasil continuará sendo conduzido fora dos trilhos da dignidade. É preciso então promover a organização popular em associações, grupos de rua, movimentos e sindicatos não atrelados a partidos políticos e cujos dirigentes não se arvorem em “donos” de nada. Sem a participação do povo trabalhador realmente, sem uma efetiva consciência na hora de votar, o Brasil seguirá sendo o país dos corruptos, sejam eles de direita ou de esquerda, não importa. É claro que nem o governo Temer, nem a maioria dos políticos e talvez nem mesmo as centrais sindicais que ocupam as ruas tem interesse na legitima conscientização e na livre mobilização popular. O discurso é bonito, mas a pratica é outra. Na verdade, por detrás de suas belas palavras, políticos e sindicalistas procuram defender os seus próprios interesses e os interesses de sua turma. O povo não pode servir de massa de manobra. Precisamos ouvir o povo, precisamos organizar os cidadãos e cidadãs, precisamos de poucas palavras e mais ação, alias, precisamos apenas de uma só palavra: CIDADANIA.
Pe. Plutarco Almeida, SJ
Diretor Geral RU
