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Agravamento da situação no Leste da Europa faria preço do petróleo e do gás disparar e impactaria a economia do país

As preocupações devido à crescente tensão na fronteira da Rússia com a Ucrânia não estão restritas à Europa. O conflito entre os dois países provocaria o envolvimento das principais potências militares do mundo e teria reflexos inclusive no Brasil, mesmo estando tão distante da zona de guerra.

O geógrafo João Correia explica que o País ocupa o assento rotativo no Conselho de Segurança da ONU a partir deste ano e fica até 2023 e que, tradicionalmente, assume uma posição de neutralidade nesse tipo de questão da geopolítica.

Apesar disso, o Brasil pode ser pressionado a abandonar essa postura mais diplomática, como já ocorreu no passado. “A ex-presidente Dilma foi muito criticada em 2014, quando não se posicionou em relação à invasão russa na península da Crimeia”, lembra Correia.

Para o professor Carlos Gustavo Poggio, do curso de relações internacionais da Faap, se o conflito se agravar, o maior impacto para o Brasil talvez não seja relacionado com a Rússia diretamente, mas sim com questões mais amplas.

“Precisaríamos analisar como o País se comportaria se uma invasão ocorresse, se os Estados Unidos demandariam algum tipo de posicionamento do governo brasileiro”, diz. “Além disso, haveria um impacto no comércio internacional, na Bolsa de Valores, e isso afetaria a economia do país.”

Rússia é um parceiro comercial importante para o Brasil. De acordo com o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, o país negociou um total de US$ 2,7 bilhões (R$ 14,3 bilhões) em produtos russos em 2020. Desse total, US$ 53,6 milhões (R$ 285,6 milhões) foram gastos na importação de óleos combustíveis. 

O preço do petróleo subiria se a Rússia, que é uma grande exportadora, diminuísse seu fornecimento. Outro fator que contribuiria para a alta do preço seria a demanda por gás natural em toda a Europa, grande consumidora do gás russo.

Gunther Rudzit, professor do curso de relações internacionais da ESPM, afirma que se o conflito na Ucrânia se agravar, haverá uma disparada do preço do petróleo, do gás natural e uma grande valorização do dólar.

Ele ainda cita Adriano Pires, doutor em economia industrial pela Universidade de Paris XIII, ao dizer que se o barril do petróleo subir dos atuais US$ 87 para US$ 100, o litro da gasolina pode custar R$ 10 no Brasil e impactar todos os setores.

“Com esse valor, o preço dos produtos seria muito inflacionado. Seria o pior cenário possível para a Petrobras e para o país”, ressalta. “Por isso precisamos esperar muito que a situação não se torne mais grave na Ucrânia, porque isso afetaria a economia global com um todo.”