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OLHAR CRISTÃO (16 de outubro 2017)

Amigos e amigas da Rádio Universidade, na semana que passou os professores da Universidade Federal de Pelotas emitiram os primeiros sinais de que mais uma greve se aproxima. Os salários não estão nem atrasados nem parcelados como é o caso, o triste caso dos professores da rede estadual de ensino, mas mesmo assim parece que vai haver greve. O protesto agora é com relação ao sucateamento e a falta de verbas para a universidade. A situação da UFPel, diga-se de passagem, não é muito diferente da grande maioria das universidades publicas no Brasil. Falta verba até para os serviços essenciais, ameaçando inclusive o funcionamento mínimo dos campus universitários. O quadro realmente é desalentador sob todos os aspectos e não há neste momento nenhum sinal de que as coisas possam melhorar a curto ou a médio prazo. Os cortes de verbas acontecem em todos os setores da administração. Sem duvida os governos do PT tiveram o mérito de ampliar o numero de vagas nas universidades, seja através da criação de novas unidades, seja por meio das cotas. Os militantes e os simpatizantes de Lula e de Dilma inflam o peito de orgulho para dizer que “nunca neste país” se fez tanto pelo ensino superior. Tudo bem, mas e a qualidade? Quantidade nem sempre é sinônimo de qualidade. São duas coisas, aliás, bem diferentes. Uma não vem obrigatoriamente acompanhada da outra. Assim como “tamanho não é documento”, quantidade evidentemente não é o mesmo que qualidade. Temos hoje no Brasil um grande número de universidades federais, entretanto, a sua qualidade deixa muito a desejar. É mais ou menos como alguém que em certo momento teve uma certa folga em termos de dinheiro e resolveu construir dezenas e dezenas de casas. Bonitas construções foram erguidas e os seus moradores ficaram muito contentes, mas na hora de comprar moveis e utensílios domésticos o dinheiro acabou. Então, a alegria de poder ter uma casa nova se transformou de repente no pesadelo de não ter uma cadeira pra sentar ou uma cama pra dormir. De que adianta?

Amigos e amigas da Rádio Universidade, para além de qualquer movimento grevista precisamos pensar de que maneira vamos atingir um nível mínimo de qualidade no ensino superior. É claro que o dinheiro é fundamental, mas não é tudo. Talvez, fosse a hora de gestores, funcionários, professores e alunos começarem a pensar não apenas no curto prazo. Talvez fosse mais importante pensar agora em como resgatar a qualidade das universidades publicas no Brasil. Ao invés de ficarmos somente nas discussões de cunho ideológico ou partidário, talvez seja esta a hora ideal para discutirmos que modelo de ensino superior estamos querendo e a sociedade precisa. Um país forte se faz com conhecimento, hoje mais do que nunca. O Brasil infelizmente está ficando para trás em muitas áreas do conhecimento humano devido a esta queda gradativa da qualidade das suas instituições de ensino superior. Como sempre temos repetido aqui no microfone da RU, a educação é o único caminho que temos a seguir. Não há duvida de que precisamos recuperar a qualidade das nossas universidades, mas não podemos esquecer os outros níveis de ensino, quase sempre também em situação dramática. Um projeto amplo, inteligente, forte e sustentável de educação para o Brasil é tudo o que precisamos. E que seja apenas mais um projeto, mas sim O projeto para o Brasil O projeto do Brasil. Sem educação de qualidade não se constrói um grande país. A continuar como estamos, sem dinheiro, sem qualidade, sem a atenção do governo e ainda por cima com greves a toda hora que futuro nos espera?

 

Pe. Plutarco Almeida, SJ   /  Diretor Geral da RU