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OLHAR CRISTÃO (04 de setembro 2017)

Amigos e amigas da Rádio Universidade, a televisão, as emissoras de radio e os jornais, inclusive o jornal ZH de Porto Alegre, falam do expressivo aumento dos índices de violência em nossa cidade. Como resposta, a Prefeitura de Pelotas lançou recentemente o “Pacto pela paz”. Uma das medidas sugeridas pelo projeto é a restrição do horário de funcionamento de bares e outros estabelecimentos que vendem bebidas alcoólicas. Algumas cidades do RGS, inclusive, já adotaram esta medida e até o momento os resultados são bastante animadores. Entretanto, aqui em Pelotas existem reações muito fortes por parte de alguns setores da sociedade, especialmente, é claro, os comerciantes que lucram bastante com este tipo de negocio. Não vai ser nada fácil emplacar este projeto e sem ele o “Pacto pela Paz” já vai começar um tanto quanto desfalcado de um elemento muito importante. De fato, ninguém pode negar que a bebida alcoólica é um dos fatores que mais contribuem para o aumento da violência. Restringir a sua venda poderia ajudar realmente. É claro que haverá sempre o tal do “jeitinho brasileiro”, uma forma, ou varias formas de burlar a lei, mas se não existir a lei as coisas pioram ainda mais. Infelizmente no Brasil é assim: as pessoas gostam de desobedecer. Se tiver, por exemplo, uma placa de “estacionamento proibido”, é justamente ali que costumamos parar nosso veiculo. Esse gosto pela infração parece ser um traço típico da nossa cultura.

Amigos e amigas da Rádio Universidade, aqui em Pelotas temos nesse momento um quadro assustador. Não estamos falando somente dos roubos, dos assaltos, dos estupros, dos seqüestros ou da violência domestica. Estamos falando também dessas aglomerações de jovens que acontecem, por exemplo, na Av. Bento Gonçalves e na Rua Gonçalves Chaves em frente a UCPel nas noites de sexta e de sábados ou em véspera de feriados. Talvez em principio possamos até achar que não tem nada de mais. Quem sabe alguém utilize o singelo argumento de que os jovens têm direito a diversão, ou como disse outro dia um vereador aqui de Pelotas: “a cidade não dispõe de espaços de lazer para a juventude, então é preciso ocupar esses espaços no meio da rua”. Talvez ainda exista alguém que queira nos convencer de que isso não é nenhuma violência no sentido estrito da palavra e que violência verdadeira é aquela promovida pelo crime organizado, trafico de drogas, e outros mais. Porém, estamos convencidos de que é urgente combater todos os tipos de violência em todos os âmbitos e em todas as suas expressões. Quem desrespeita o direito ao sono e ao descanso do seu vizinho não é menos violento do que o assaltante que rouba o nosso celular na esquina da rua. Quem fecha uma avenida impedindo ou dificultando o livre acesso ou o transito das pessoas não é menos violento do que o ladrão que arromba a nossa casa e rouba algum pertence. O direito que o cidadão ou a cidadã tem de não ser assaltado nem roubado é o mesmo direito que tem também de dormir em paz e de ir e vir pra onde quiser na hora que quiser. Quem suja as ruas da cidade, quebra um banco de jardim ou destrói qualquer coisa que pertence a toda a comunidade não é menos bandido do que qualquer outro bandido. O motorista que invade o sinal vermelho, estaciona em cima do passeio, na vaga de idoso ou deficiente também comete um ato de violência. Embora o grau da infração seja menor, é claro, nem por isso o desrespeito a lei deixou de acontecer. Infrações menores ou maiores são infrações do mesmo modo e devem ser combatidas com o mesmo rigor.

Amigos e amigas da Rádio Universidade, se quisermos realmente firmar um “Pacto pela paz”, temos que falar de cidadania. Este é o nosso drama maior, o desprezo pela lei, fundamento maior da cidadania. A noção de cidadania ainda é muito frágil aqui em Pelotas como de resto em todo o Brasil. Não existe cidadania quando a lei é violada com “jeitinhos” a toda hora. E não podemos esperar que os bandidos, os ladrões, os assaltantes, o Comando Vermelho ou o PCC comecem a falar de cidadania se nós também não respeitamos a lei, por mais simples ou menos rigorosa que ela seja. Então, vamos fazer um esforço para respeitar as pessoas, o direito de todas as pessoas. Nesta “Semana da Pátria” vamos fazer um “Pacto pelo respeito ao direito do próximo”. Isto já seria um bom começo no longo e difícil caminho em busca da paz.

 

Pe. Plutarco Almeida, SJ   /  Diretor Geral da RU