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OLHAR CRISTÃO (16 de janeiro 2017)

Amigos e amigas da Rádio Universidade,

Em atenção ao prezado colega jornalista Helio Freitag, a quem respeito e admiro, e aos leitores do jornal “Diário da Manhã”, tentarei esclarecer aqui alguns pontos que considero importantes com relação à crítica que fiz no sábado, dia 07 de janeiro deste ano, durante o programa “Jornal de S abado”, ao comentar o seu editorial.

Creio, aliás, que não é preciso esclarecer “alguns”, mas apenas um ponto cujo fundamento se encontra nesta pergunta: que relações existem entre pobreza e crescimento da natalidade? Algumas correntes de pensamento mais à direita defendem a idéia de que com menos gente no mundo haveria uma melhor distribuição da riqueza. O principio é de que as riquezas são escassas (o “bolo” é pequeno) e quanto mais bocas surgirem, é claro, menos pão haverá. Salvo engano, foi Delfim Neto, Ministro da Fazenda ainda na ditadura militar quem propagou a tese de que “é preciso primeiro fazer crescer o bolo para depois distribuí-lo”. O tempo passou e o bolo cresceu bastante, mas o seu doce sabor as camadas mais excluídas ainda não provaram. É certo que os governos Lula e seus projetos sociais esboçaram uma divisão desse bolo, mas o que o Brasil assistiu algum tempo depois foi a derrocada, a explosão da crise econômica que chegou aos dias atuais. Algo deu errado, ou nunca esteve certo!

Amigos e amigas da Rádio Universidade, se a Igreja adotasse esta tese, ou seja, de que não há bolo suficiente pra dividir com tanta gente e saciar tantas bocas, certamente haveria de se esforçar para que todo e qualquer método de controle da natalidade fosse liberado para os casais católicos.  Entretanto, não creio que seja exatamente este o pensamento do Papa Francisco e muito menos o caso do Brasil. O problema não reside no tamanho do bolo e sim na maneira injusta e covarde como ele foi repartido ao longo da nossa historia e continua sendo dividido até os dias de hoje, inclusive aqui em Pelotas. Graças a Deus, a atuação corajosa do Ministério Público e ao apoio de grande parte da nossa imprensa (e aqui incluo o valoroso Diário da Manhã) os “mal feitos” (como diria aquela ex-presidenta) estão vindo à tona quase que diariamente. De algum modo agora sabemos, temos nome e endereço de quem é que está ficando com as maiores fatias desse bolo que julgávamos pequeno, mas que na verdade sempre foi muito grande. O problema não se resume a expressão: “bocas de mais e bolo de menos”. Esse velho e desgastado refrão não pode mais ser usado como desculpa por parte de que está encarregado de administrar e de favorecer a divisão.

Amigos e amigas da Rádio Universidade, o problema do nosso Brasil não é a quantidade de bocas, mas a voracidade com que certos “bocões” engolem sorrateira e às vezes até descaradamente pedaços do bolo que deveriam alimentar os empobrecidos deste grande país. Chegará o dia em que essas bocas famintas avançarão sobre o bolo e exigirão a qualquer custo as fatias que lhes cabem e que por pura maldade nossas elites políticas e empresariais sempre negaram. Queira Deus, antes disso, o Brasil consiga encontrar maneiras não de limitar ainda mais o numero de bocas, que por sinal não está crescendo tanto assim, mas de coibir eficazmente a voracidade dos “bocões”.

Padre Almeida