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Dados da Sociedade Brasileira de Urologia indicam que o Brasil tem 10 milhões de pessoas – cerca de 5% da população – com algum grau de incontinência urinária. Diante desse cenário e a fim de melhorar a qualidade de vida de pacientes, os hoje fisioterapeutas Willian Mendes Furtado e Renato Bastiani Guimarães, egressos do curso de Fisioterapia da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), resolveram utilizar a doença como tema da monografia de conclusão de curso. Foi assim que eles criaram o software Emma, que além de diagnosticar, auxilia no tratamento.

O estudo, concluído no final de 2015, teve como foco a incontinência urinária de esforço. Configurada por qualquer perda de líquido, a doença atrapalha a realização de atividades físicas e pode afetar até a interação social das pessoas. Os autores do trabalho explicam que tinham interesse pela área de ginecologia e obstetrícia e estavam à procura de inovação. Como identificaram que os aparelhos de biofeedback (resposta do corpo a estímulos) à disposição no mercado são caros, pouco intuitivos e servem apenas para mostrar a intensidade da incontinência, apostaram no desenvolvimento de uma nova tecnologia.

Segundo Guimarães, a incontinência urinária é um problema grave e pouco discutido. Além disso, completa Furtado, era necessário criar um aparelho econômico. O equipamento foi então desenvolvido com orientação da professora Estefânia Silveira de Moraes, que ministra a disciplina Fisioterapia em Ginecologia e Obstetrícia. “A incontinência urinária é considerada um tabu. Esses alunos saíram da zona de conforto e fizeram um grande trabalho”, acredita.

Todos os testes foram realizados em voluntárias que possuem incontinência urinária e puderam experimentar o novo método de tratamento. “É um processo delicado. Nenhuma mulher se sente confortável em mostrar suas partes íntimas a um desconhecido e menos ainda se esse desconhecido for um homem. Então, tirar a pessoalidade do teste com a inserção de uma sonda foi a solução encontrada”, pontua Guimarães.

O estudo segue em teste e o equipamento tem sido utilizado por outros estudantes de Fisioterapia da UCPel, que continuam avaliando a eficácia do método. Em paralelo, os fisioterapeutas criadores do aparelho tentam patentear a criação, em processo já em andamento.

Como funciona

O sistema desenvolvido pelos fisioterapeutas foi inspirado em um jogo, no qual exercícios de Kegel (principais técnicas da fisioterapia para o tratamento da incontinência) foram transformados em quatro fases. Emma, uma gata e personagem principal dessa espécie de game, tem seus movimentos relacionados à contração da vagina da mulher. Se a gata pular os obstáculos, por exemplo, significa que a mulher está fazendo uma boa contração. “Ao invés de simplesmente fazer exercícios propostos pela fisioterapia, as mulheres estão utilizando um meio de entretenimento, transformando a atividade em algo mais interessante enquanto realizam os mesmos exercícios”, explica Furtado. Além de proporcionar interatividade, o aparelho também fornece o diagnóstico da incontinência, não sendo necessário o exame de toque.

O aparelho é composto por uma sonda perineal (introduzida na vagina), esfigmomanômetro (instrumento para reconhecimento da pressão), pelo software Emma, 1,5 metros de tubo de silicone, torneira de três vias, preservativos sem lubrificação e pêra insulfadora. Com tudo isso, os estudantes gastaram R$ 500, aproximadamente R$ 1,5 mil menos do que o custo do aparelho tradicional. O design digital do Emma foi feito por uma profissional de cinema de animação da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Sobre a incontinência de esforço

Os três tipos mais recorrentes de incontinência urinária são a de esforço, urgência e mista. A primeira, objeto do estudo do trabalho realizado na UCPel, ocorre principalmente pela fraqueza dos músculos pélvicos que, sem força para segurar a urina, acaba causando a perda em ações como tossir, espirrar ou fazer atividade física, por exemplo. As causas são principalmente o parto, a menopausa e a falta de conhecimento sobre assoalho pélvico.